Espelho
Por favor,
Não me deixes ver no espelho,
Que tudo acabou.
Por favor,
Não me mostres
A tua raiva,
Não me deixes perceber
Quem és.
Finge, ama, dá-te,
Mente!
Não me deixes perceber
Que mais nada tem sentido...
Não digas nada,
As palavras saem-te
Em cascata,
Os sons,
Esses caem como eu
No vazio,
Não suspires o meu nome,
Longe do teu,
Não sues uma gota que seja,
Que não minha.
Por favor
Não me deixes ver no espelho
Que tudo acabou.
Dá-me só mais uma
Manhã de leveza,
Dá-me só mais uma
Bomba,
Por onde respiro
E expludo.
Dá-me só mais um
Sinal,
Por onde me guio
E perco deliciosamente...
Mas por favor o espelho não!
No espelho, vejo-te,
Ao longe...
Longe demais de mim.
Aí, sinto-me acompanhado
Apenas pelo meu reflexo,
E nada mais.
Aí, não te sinto ofegar
Não transpiro as gotas
Do teu olhar,
Não te apanho o cabelo
Com beijos,
Não estrago a maquilhagem
Com palavras,
Não te visto com um sorriso,
Nem te dispo,
Nem te sinto,
Nem te toco,
Nem te amo...
O espelho não!
Foram momentos demais!
Nada acaba assim,
Nada deixa de existir,
Sem marcas, sem lembranças,
Sem uma rubrica a baton,
Que choro até esquecer...
Por favor,
Não me deixes ver no espelho
Que tudo acabou!
Agarra-me e diz-me
O que eu quero ouvir,
Ou não.
Prende-me e mata-me,
Devagar...
Rouba-me, e pede
Um resgate que ninguém
Possa pagar.
Ama-me, e recebe
Aquilo que te quero dar...
O espelho não!
É demasiado frio,
É demasiado atemperamental
É demasiado banal,
Sou eu sozinho,
E da tua sombra,
Nem sinal.
Olho-me nos olhos,
E sei-me inteiro,
Porém mais vazio
Que nunca.
Sei-me bondoso,
Mas sozinho.
Sei-me belo,
Mas tímido.
Sei-me grande
Porém sem ti.
Sem nada.
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